Fuga

Sai correndo dali, abri a porta de casa com uma mochila e algumas roupas, as quais foram dificeis de escolher já que sempre fui tão apegado a tudo que possuía, mas fiz, botei o essencial e um pouco mais na bolsa, bati a porta, o portão, joguei as chaves pra cima e não parei.
Ainda correndo passei por carros e trens, atravessei asfalto, terra e água e querendo mais, resolvi atravessar o ar. Novas culturas vivenciei, me desconstrui um pouco a cada cidade visitada, cresci um pouco mais com o aprendizado que levei de cada lugar, murchei quando percebi a falta que fazia a vida que tinha, o guarda-roupas acumulado, o quarto apertado, a cama confortável, as fotos na parede e a rotina calma e estressante ao mesmo tempo. Dai me lembrei o porquê, o porque sai correndo de lá e senti mais uma vez durante minha fuga, um alívio gigantesco, que jamais fui capaz de sentir em casa, com as pessoas com quem vivia, com os trabalhos que fazia e com as coisas que não queria.
Acordei as sete e quarenta da manhã, minha primeira visão a porta do guarda-roupas, o clarão vindo da cozinha e passando pelo corredor do meu quarto acompanhado da realidade. Fui tomar banho para iniciar mais um dia da rotina que em tal sonho, eu ja não mais vivia.
Pensei novamente: um dia saio correndo e não paro mais. Atravesso trens e carros, passo por campos e rios, enfrento frio e calor, mas nao desisto, nao permito que a visão que todos os dias me obrigo a ter seja eternamente minha.

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