NATURAL

No dia em que me tocou, senti arder e queimar, hora faísca e hora chama fumegante queimando e deixando rastros. E se soubesse que o calor reconfortante daquele dia deixaria cicatrizes das queimaduras  que ardem no inverno e  sufocam no verão, jamais teria te deixado tocar minha alma, não teria permitido sua boca queimar na minha e suas mãos incendiarem pelo meu corpo.
E assim como brincamos com fogo, mesmo sabendo o poder de destruição que ele tinha, brincamos também com a água e você acabou permitindo que eu me afogasse cada vez mais no poço que criou entre nós. Pior que sentir cada centímetro das marcas quentes por todo o corpo, é sentir a magoa e a saudade inundando tudo, me afogando de dentro pra fora, levando e estragando todo sentimento que por muito tempo segurei, numa enxurrada só levou tudo que eu era, tudo que fui e tudo que tinhamos.
Na terra me vi, respingando, caído na lama, sentindo o chão sólido da realidade, buscando formas de me reerguer e me manter em pé. As cicatrizes no sol forte me lembravam pelo que estava lutando, buscando a liberdade que tirei de mim mesmo, quando permiti que a água, que nunca parou de correr, fosse aquilo que nos mantinha juntos. Levantei e caminhei, por muita terra passei e lembrei que as vezes, apesar da calmaria no mar, é no chão que a gente se encontra, andando pelas estradas batidas do meu coração, a lama inundada pela água secava e se tornava sólida, tão sólida que eu não mais escorregava.
Durante a caminhada, cicatrizes queimavam, a água pingava, a terra firmava e o ar me aliviava, derramando frescor nas dores gritantes das feridas causadas, espantando as gotas frias que pelo corpo corriam e levantando poeira, pedras e folhas, para me lembrar de onde estava e onde queria chegar. Liberdade.

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